terça-feira, 24 de janeiro de 2017

A dor que ninguém percebe

Quantas vezes você pensa que está bem, que tem total segurança de si e na verdade você se enxerga de forma errada?

Isso acontece com quem é depressivo, o depressivo cria uma imagem de si e do mundo desfocada, acredita num verdade que existe e por isso sofre, por acreditar piamente nesta verdade que é só dele e não a verdade propriamente dita.

Isso vem acontecendo comigo há muito tempo e só hoje soube disso.
Sou depressiva mista, como a psiquiatra me diagnosticou e meu diagnóstico estava errada há 10 anos, quando comecei a fazer tratamento psiquiátrico para depressão.
Fui diagnosticada com depressão "normal" ou clássica. Aquela que a pessoa fica ali parada, sem ação e sem reação a nada. O que nunca fui, mas quando fui a primeira vez ao psiquiatra eu deveria estar. Estava prostrada, no fundo das minhas forças, só chorava e dormia, não conseguia comer e quando fui ao médico disse a ele: por favor! eu não aguento mais! faça alguma coisa, pois não estou suportando!

O desencadeamento disso tudo foi um fim de relacionamento não muito bem estruturado e ainda, meses antes, eu havia sido vítima de uma ameaça de morte enquanto dava aula para crianças da antiga 5a. série (hoje sexto ano). Soma-se tudo isso a uma infância e adolescência desajustadas, com um pai alcoólatra e controlador, podador. Uma hora iria tudo explodir e foi há 10 anos que tudo explodiu quando aquele cara que pensei que me amava tanto e que parecia ser o cara certo pra mim simplesmente sumiu porque se interessou por uma garota totalmente oposta a mim e ao que ele dizia gostar em uma mulher.
O sofrimento foi lancinante, tudo que aos meus olhos parecia certo, estava errado (e nem era ainda os olhos de uma depressiva), o caso é que eu sofria muito e fui diagnosticada com depressão leve.

Essa depressão leve, por mostrar as características do que eu sentia naquele momento, esconderam, acredito, o verdadeiro diagnóstico, o de depressão mista (com espectro bipolar) e isso só vem me prejudicando até hoje.

Depois de anos a fio sofrendo e não vendo melhora, vendo muitas coisas darem errado, pensar coisas erroneamente sobre meus amigos e só me frustrar com a 3a médica que me tratava e não modificava nunca meus remédios, por mais que eu dissesse que não me sentia bem, que sofria, que nada me dava prazer, que comia compulsivamente e minha estima ia lá embaixo - porque uma garota de 58kg se transformou num balão de 76 kg - e não conseguia se amar e achar que alguém pudesse amá-la verdadeiramente porque tem muito medo de sofrer de novo, de voltar ao sofrimento inicial e de não se boa o bastante para ninguém; acordei. Na verdade, um amigo me acordou e me indicou uma nova médica.

Na consulta de hoje descobri que sou mista e que esse espectro bipolar não quer dizer que sou bipolar, mas que não tem uma reação só (ficar deprê) eu também me zango, fico revoltada, saio xingando e reclamando de tudo e todos; às vezes torrava meu dinheiro em box de séries que nem assisti e livros que nem li. Tudo um destempero que o "depressivo clássico" não tem, mas eu tenho. Daí esse "mix" da depressão.

Ao ouvir a médica me explicar tudo e eu relembrar que sim, eu muitas vezes pensei muito errado de mim e dos outros; sim, eu muitas vezes me enfureci na minha frustração com as coisas que não aceitava e não levava desaforo pra casa; eu percebi que passei os últimos 10 anos (ou até mais, antes de ser tratada de alguma coisa) brigando comigo e com os outros e quanto mal fiz a mim e as pessoas mais queridas que estavam ao meu lado.

Tudo isso porque não fui diagnosticada da forma correta e nem tratada da forma correta. Hoje tenho labirintite graças ao erro médico, assim como um sono em excesso e minha enxaqueca que não melhora, tudo porque não fui tratada adequadamente. E a médica disse que isso poderia até piorar, eu poderia virar, sim, uma bipolar verdadeira ou ir pra outras doenças psiquiátricas piores.

Pensei muito nisso tudo e me deu vontade de escrever pensando exatamente que um monte de gente pode estar se tratando agora de forma errada e nem sabe. E o sofrimento continua.
Gostei muito da médica, pois ela me fez várias perguntas de várias coisas que realmente eu sinto e parecia que ela adivinhava (isso se chama muito estudo e prática) e também me tratou com humanidade, o que é difícil nos médicos em São Paulo (meu irmão diz que no Rio eles são muito mais atentos).

Saí de lá aliviada, pensando que vou enxergar talvez como nunca enxerguei o mundo, assim que a medicação fizer efeito e essa for a certa pra mim. Isso me deu muito mais esperança na vida, de realmente acertar as coisas e não fazer tantas besteiras por ter pensamentos, julgamentos e ações erradas sobre mim e sobre os outros.
Tudo isso me causa um sofrimento grande, tenho sofrido nesses últimos 10 anos por estar sendo "destratada" e por não saber direito o que é que eu tinha. Agora me sinto confiante para mais coisas na minha vida, para ter projetos concretos e talvez perder o medo da vida.

Imagina o que é sofrer anos por medo da vida e por vê-la através de um óculos embaçado?
Eu sei e muitos também sabem e espero, que como eu, encontrem um profissional que realmente os ajude.