sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

De Bowie e Vonnegut

Janeiro trouxeram duas surpresas pra mim, uma triste com a morte de David Bowie e uma surpresa perplexa pela leitura de Matadouro número 5 de Kurt Vonnegut.

Não sou a maior fã de Bowie, nem a maior conhecedora - conheci fãs ardorosos deste senhor e aprendi com esses e,  mesmo que ele dissesse que não,  com o filme Velvet Goldmine. Não aprendi que ele gostava de meninos e meninas, descobri como era a sociedade da época e o impacto que ele causou, a partir daí comecei a admirar Bowie, não era mais só o rei dos elfos de Labirinto, era um cara muito além de seu tempo e que poderia estar onde quisesse, tocar o que quisesse, ele tinha um brilho próprio pra isso e fazia tudo com maestria, inclusive cinema.

Estive em Brixton várias vezes (porque morava perto e gostava do mercado de lá) e não achei até agora a foto de uma loja de departamentos que tinha uma homenagem pra ele... vou achar a foto e postar, prometo!
Brixton é um bairro bem peculiar que uns ainda acreditam muito subúrbio - no que tem de pior de chamar um lugar de subúrbio: a segregação. Ouvi de uma brasileira a frase: "mas lá é bairro de negros!" como se fosse um lugar diferente dos outros... lembrei da música do Clash (Guns of Brixton) e na verdade achei um bairro de todo mundo. Não tão longe do centro, com um local de shows memorável, uma parte comercial muito legal com uma espécie de mercadão, Brixton Market, com comida de todo lugar, inclusive brasileira. E os brasileiros lá ainda pensam que Margareth Thatcher ainda manda no país... pararam no tempo.

Brixton é muito legal! Como disse tem o comércio, tem a música, tem o metrô, tem o parque, tem vida, vida múltipla como a de Bowie que não poderia ter nascido em melhor lugar para saber que romper com os grilhões dos coxinhas do seu tempo era fazer um bem não só aos negros de Brixton, mas a todas as pessoas do mundo que o ouviram e se sentiram reis e rainhas por um dia.

O que isso tem a ver com a leitura de Vonnegut?
Seu livro fala de um personagem que não tem nada de Bowie, de uma guerra que Bowie mal percebeu acontecer porque era bebê, mas um cara que lê ficção científica e acredita que não morremos, estamos vivos em algum lugar no tempo.
Bowie também ficará vivo no lugar no tempo em que o descobrimos e o amamos, seja como um alienígena no seu mundo ficcional.
Billy Pilgrim, pelo contrário, parece que nunca será lembrado por ninguém e em nenhum momento do tempo.

A literatura de Vonnegut me pareceu certa para um filme: um filme em que tempo espaço se misturam como se misturam na cabeça de Billy, algo que poderia ser feito por Michael Gondry ou algum outro cineasta mais engenhoso e menos conservador, que goste de abusar do conflito que irá passar para seu público, que o público sai do cinema e ainda pense: "mas...e... se... Billy...".
Fiquei imaginando como seriam as cenas nesse vai e vem de vários momentos no tempo: 1945, 1958, 1968... algo como entrar e sair do tabuleiro de Jumanji... é, fiquei piradinha rs

A verdade é que li muito rápido Matadouro número 5, li rápido e não via a hora de saber sobre o bombardeio em Dresden, saber se os alienígenas o devolveriam, se ele deixaria de ser aquele cara apático que nunca chorava. E chegando ao final vi que nada disso importava, o que importava era o que tinham feito com a cabeça de Billy, o que a guerra fez com as pessoas, o que uma vida ordinária faz com as pessoas e  que a vida precisa de mais que isso para ser plena.

Acredito que Bowie descobriu o que era esse mais na vida e teve uma vida plena. Bowie não foi mais um experiência alienígena para Ziggy Stardust (ou o contrário).
Espero que Kurt Vonnegut também, apesar de ter vivido o bombardeio de Dresden e tantos momentos tristes em sua vida.


segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Blog ou o Diário do Desassossego

"Não escrevo para agradar
nem para desagradar
Escrevo para desassossegar"  Fernando Pessoa

Foi essa trovinha do Fernando Pessoa que me fez pensar que todo blogueiro - ou os blogueiros clássicos rs aqueles que usam esse espaço como se fosse um espécie de diário - esse lugar para desassossego. Eu também escrevo para sossegar minha mente, mais que meu coração. Acho minha mente muito rápida e incessante às vezes e, quando não escrevo o que preciso, ficam martelando dias e noites os pensamentos.

Tenho uma mania ruim de me apegar a algumas ideias, ultimamente tenho uma que não me dá sossego e já estou ansiosa o suficiente pensando em como minha vida profissional tomará rumo.
Terminei outra faculdade e cada vez que penso em voltar para uma sala de aula um desespero cresce dentro de mim: não tenho mais saúde REALMENTE para dar aula. Não é mais uma questão de não ter paciência, não ter mais motivação é uma questão psicológica, psiquiátrica, talvez, eu não consigo me sentir bem dentro de uma sala de aula.
Posso saber tudo de como fazer, lecionar, mas não tenho mais condições... não é questão de gosto, como já cansei de falar aqui, é questão de sofrer ou não sofrer. E hoje eu sofro só de pisar numa escola. Sou tomada por um desespero que combato tentando me manter calma, ou pelo menos fingindo que não dou bola (que não estou nem aí para os alunos que me infernizam ou até a direção da escola totalmente omissa), mas o ponto não é esse. O ponto é que não consigo mais e pronto.
Podem vir amigos me dizerem que sou uma excelente professora, que todos gostam da minha aula (quando tinha alunos que se importavam com isso), não consigo.
Me dizem para dar aula em escola particular, para dar aula em faculdade, mas eu simplesmente não sinto disposição, não sinto vontade, não sinto ânimo, não sinto prazer. Como quando dei aulas de inglês, eu me sentia mais infeliz do que na escola pública, me sentia mais um zero do que com meus alunos sem iPhone.
E isso vai me dando uma ansiedade das grandes.

Mas outra coisa que tem me remoído é a quase vontade de entrar num site de relacionamentos amorosos... entrar num site desses para mim é quase um suicídio (ainda acho o suicídio melhor, mas...)... mas estou começando a pensar no assunto, a dar o braço a torcer para ver se minha vida amorosa anda... do jeito que está não dá, ou seja, não anda há tempos, não vai pra lado nenhum. Só que isso não quer dizer que eu não tenha medo (MUITO MEDO), também me dá um desespero pensar em entrar num site ou aplicativo desses e... bum! Mais um canalha na minha vida... não quero mais colecionar canalhas, não quero mais ser enganada com palavras do tipo: comigo é diferente.
E no final ser diferente mesmo: ser pior!
Tenho medo das pessoas, tenho medo, muito medo, mas ao mesmo tempo queria muito alguém que estivesse interessado em estar ao meu lado, que quisesse compartilhar a vida, que um abraço apertado fosse o melhor de tudo e que estar junto não fosse um fardo.

Mas o medo é maior e não vai ser dessa vez ... também não consigo...

E só de escrever aqui já a alma não é tão pequena, só menos desassossegada.